O poder das limitações para inovar.
O modo como encaramos limitações e restrições pode definir se seremos ou não bem-sucedidos ao inovar.
IMPROVISO DA SEMANA
Por Rubens Aguiar, Managing Partner da DTG Brasil.
Há alguns anos, durante um projeto de inovação que conduzimos e que gerou profundas transformações em uma grande organização, nossa equipe se deparou, mais uma vez, com o que chamamos de “anticorpos da mudança”. São indivíduos, gestores ou áreas inteiras que, ao encarar os problemas que emergem de uma imersão profunda na realidade da empresa, se sentem ameaçados ao ver que vários desses problemas revelam suas fragilidades. A reação é quase imediata: evitam se aprofundar nas questões centrais, boicotam atividades e, pior, criticam a condução do projeto e até mesmo os líderes que o patrocinam.
Somos humanos e encarar nossas mazelas não é tarefa fácil e nem todos estão preparados para isso. Contudo, em contraste com o comportamento típico desses “anticorpos da mudança”, há pessoas que encontram nos movimentos de mudança a oportunidade genuína de se entregar ao processo e transformar a si mesmas e a realidade. Mas por que indivíduos que vivem um mesmo contexto têm comportamentos tão distintos diante de um cenário de mudanças? A resposta pode estar no modo como essas pessoas lidam com restrições e limitações. Se para uns uma vulnerabilidade é vista apenas como uma ameaça a ser evitada, para outros ela pode ser percebida como uma oportunidade para alavancar transformações.
Em “A Beautiful Constraint”, um livro que propõe ajudar as pessoas a transformar suas limitações em vantagem, os autores e consultores Adam Morgan e Mark Barden definem restrições como “limitações impostas por uma circunstância externa ou por nós mesmos, que afetam materialmente nossa habilidade de fazer algo.” Pense um pouco no seu contexto de trabalho e, facilmente, você reconhecerá limitações externas ou pessoais que já o impediram de seguir adiante com uma ideia ou projeto.
Durante as pesquisas que antecederam a publicação do livro, Morgan e Barden identificaram três tipos de personalidades que se manifestam diante das restrições, segundo sua ambição de resolver o problema:
A Vítima, que diminui sua ambição ao se deparar com uma limitação;
O Neutralizador, que se recusa a diminuir sua ambição, mas busca um caminho diferente para realizá-la;
O Transformador, que encontra um jeito de usar a limitação como uma oportunidade, possivelmente aumentando sua ambição ao longo do caminho.
O designer Michael Bierut, uma das pessoas pesquisadas por Morgan e Barden, reconheceu a existência desses três tipos em uma única pessoa – ele próprio. Bierut identificou-os como estágios de uma postura que se inicia vitimista diante das restrições, mas que avança procurando rotas alternativas até descobrir o valor das restrições e usá-las a seu favor.
Morgan e Barden propõem um caminho para quem quer progredir nesses estágios e passar a abraçar as restrições: um mergulho em três elementos capazes de avaliar nossa postura diante das limitações e um exercício prático a partir deles:
Ao fazer essas perguntas, os autores nos convidam a identificar a intensidade das nossas respostas, a exemplo do que foi feito no quadro acima. Ao definir o ponto inicial em que estamos em termos de Mentalidade, Método e Motivação para encarar um desafio e as restrições que se apresentam, podemos agir e desenvolver os aspectos que nos permitirão transformá-las em vantagem.
Já fizemos esse exercício em alguns projetos e ele foi especialmente proveitoso ao escolher membros de um time para um desafio específico de inovação. Aqueles que se conectaram com maior intensidade ao desafio segundo os três critérios se mostraram mais aptos a lidar com as restrições do contexto e a buscar soluções mais criativas e inovadoras.
BORA APROFUNDAR?
A Beautiful Constraint: How to Transform Your Limitations Into Advantages And Why It's Everyone's Business Now é um livro sobre inventividade cotidiana e prática. Ele descreve como encarar os tipos de problemas que enfrentamos hoje – falta de tempo, dinheiro, recursos, atenção, know-how – e ver neles a oportunidade de transformação de si mesmo e das organizações.
BORA ESCUTAR?
O cantor-compositor-multiinstrumentista e produtor londrino Jacob Collier gravou o álbum In My Room sozinho, sem um estúdio profissional. Ele teve que superar limitações técnicas, como acústica de ambiente não tratada e mixagem feita em fones de ouvido. O resultado foi um álbum que soa extremamente sofisticado, usando sobreposição de vozes e instrumentos para criar um som complexo com poucos recursos físicos. Se o gosto por jazz é uma limitação para você, comece pela surpreendente Woke Up Today e abrace essa limitação!